Na semana passada, os conselheiros do Tribunal de Contas do Estado de Sergipe (TCE) debateram o disparo em massa de notícias falsas envolvendo o órgão. A notícia seria de que a retirada dos ônibus elétricos de circulação jamais fez parte das recomendações, bem como o aumento do valor da passagem em nada teria relação com a medida cautelar expedida pelo órgão. Relembre o caso aqui.
Em meio ao debate, a conselheira Angélica Guimarães chegou a dizer que a diretoria de comunicação do TCE ligou para diversas páginas e blogueiros a fim de demonstrar o que realmente havia sido recomendado pelo órgão, mas que quase nenhum desses comunicadores publicou sequer a nota de resposta.
Diante dessa situação, o conselheiro Ulices Andrade questionou: “por que a gente não faz uma auditoria especial pra tratar da compra desses ônibus? Isso é atribuição do tribunal. Aí nós vamos mostrar aos blogueiros realmente o que foi que houve”.
A fala soou como um recado, mas não aos blogueiros. O conselheiro foi além e expôs dúvidas sobre o próprio processo de aquisição dos veículos elétricos, mencionando que, até a semana anterior, a prefeitura de Aracaju sequer havia conseguido a certidão do TCE necessária para a Secretaria do Tesouro Nacional autorizar o empréstimo usado na compra. Segundo ele, o documento só teria sido emitido depois dos ônibus já estarem em circulação.
O tom da fala deixou claro que, embora haja indignação com as tentativas de politizar o tribunal, uma eventual auditoria pode trazer à tona mais do que simples desmentidos a fake news. Pode abrir uma frente de apuração com potencial de desgastar politicamente a prefeitura de Aracaju, justamente em um momento em que a gestão tenta mostrar resultados na área da mobilidade.
E é aí que se impõe uma reflexão necessária: não se enfrenta um órgão de controle como o TCE com narrativas ou confrontos indiretos. Por mais que os conselheiros reforcem que o tribunal é técnico (e de fato o é), qualquer tentativa de arrastá-lo para o campo político tende a ter efeito contrário. O resultado político pode ser muito mais duro do que se imagina, porque, ao reagir, o órgão não o faz com discursos, mas com instrumentos formais de fiscalização: auditorias, tomadas de contas, pareceres técnicos.
Em outras palavras, ao buscar responsabilizar o tribunal por medidas impopulares, corre-se o risco de abrir espaço para que o próprio TCE investigue com ainda mais profundidade, trazendo à tona dados e números capazes de virar munição política contra quem tentou inverter a narrativa.