Na tarde desta segunda-feira (13), o Plenário da Assembleia Legislativa de Sergipe (Alese) foi cenário de uma emocionante solenidade que marcou a entrega do Título de Cidadania Sergipana à defensora pública Carla Caroline de Oliveira Silva. A homenagem, proposta pela deputada estadual Carminha Paiva (Republicanos), reconhece a expressiva contribuição da homenageada para o fortalecimento da justiça social, da cidadania e dos direitos humanos em Sergipe.
Natural do Rio de Janeiro, Carla Carol, como é carinhosamente conhecida no meio jurídico, chegou a Aracaju ainda na infância, em 1988. Desde então, construiu uma trajetória marcada pelo compromisso com o serviço público, a militância social e a defesa incansável dos mais vulneráveis. Com um currículo sólido e atuação destacada no Estado, sua história simboliza o amor e a dedicação a Sergipe, valores que motivaram a concessão da honraria.
Durante a solenidade, parlamentares como a deputada Linda Brasil (PSol), familiares, amigos, colegas de profissão acompanharam com emoção os momentos de reconhecimento, que reforçaram a importância de homenagear figuras públicas que, como Carla, dedicam suas vidas à promoção da justiça social.
Fala da autora da propositura
Ao justificar a entrega do título, a deputada Carminha destacou a trajetória de Carla Carol como exemplo de superação, compromisso e transformação social. Para a parlamentar, homenagear a defensora pública é também reconhecer a importância da presença e da voz das mulheres negras no sistema de justiça e nos espaços de poder.
“A trajetória de Carla é, de fato, muito bonita. Ela é natural do Rio de Janeiro, mas chegou a Sergipe ainda criança, cresceu aqui, formou sua família, construiu sua carreira e escolheu esse estado como lar. Conheci seu trabalho por meio de uma amiga em comum e me encantei, principalmente pela sua atuação com mulheres, sobretudo mulheres negras. O trabalho de Carla é transformador. Ela é defensora pública em Nossa Senhora do Socorro, onde desenvolve uma atuação marcada pela empatia, competência e compromisso com a justiça social. Já contribuiu e continua contribuindo muito com Sergipe. Por isso, não poderia deixar de fazer essa homenagem. Conceder o título de cidadania sergipana é dizer: ‘Você é parte de nós, você pertence a esta terra’. E isso me emociona, porque também adotei Sergipe como minha casa. Estou muito feliz em proporcionar esse momento a ela.”
Reconhecimento à trajetória
Emocionada com a homenagem, Carla Caroline agradeceu o reconhecimento da Casa Legislativa e reafirmou seu compromisso com o povo sergipano. Ao relembrar sua trajetória desde a infância no Conjunto Orlando Dantas até sua atuação na Defensoria Pública, ela destacou a importância da educação pública e da mobilização comunitária em sua formação.
“Para mim, essa homenagem representa a consagração de um sentimento que sempre foi da alma. Eu estou em Sergipe desde os três anos de idade. Não tenho outra identidade, eu sou sergipana. Pouquíssimas pessoas sabiam que eu não era natural daqui. Quando a deputada Carminha descobriu, ela prontamente disse: ‘Então eu vou propor o título de cidadania para você, porque você merece’. Hoje é o reconhecimento formal de algo que sempre foi real para mim, que vai além de qualquer certidão. Eu só tive o ‘azar’ de não ter nascido aqui, mas o meu coração, meu paladar, meu sotaque, meu jeito de viver… tudo é sergipano. Sergipe é minha casa, é a terra onde cresci, onde aprendi a sonhar, a trabalhar, a resistir. A minha história de vida está profundamente entrelaçada com esta terra. Mesmo nos períodos em que morei fora, sempre foi por tempo limitado, e eu voltava. E sempre voltarei. Mesmo que um dia eu venha a morrer longe daqui, quero que me tragam de volta para ser enterrada em solo sergipano. Essa honraria que recebo hoje é, também, o reconhecimento do trabalho que venho desenvolvendo há anos, seja ao lado da doutora Adélia, da doutora Flávia, ou em tantas frentes nas quais me envolvi com coragem e amor. É uma honra ser, oficialmente, cidadã sergipana.”
Homenagem compartilhada com a família
A cerimônia contou com a presença emocionada de familiares, que celebraram a conquista como um marco na história da família. A mãe da homenageada, Sandra Lúcia, relembrou os primeiros anos de Carla em Aracaju e destacou a entrega da filha às causas sociais:
“Hoje é um daqueles dias que ficam gravados no coração de uma mãe. Estar aqui, vendo minha filha receber esse título de cidadania sergipana, é algo que eu nunca vou esquecer. Carla sempre teve uma ligação muito forte com Sergipe. Nós viemos morar aqui quando ela tinha apenas três anos, e desde então essa terra nos acolheu com muito carinho. Ela cresceu com os pés nesse chão e o coração pulsando pelas causas que abraçou. Nunca se sentiu uma ‘de fora’, pelo contrário, sempre viveu Sergipe em cada detalhe: na fala, na comida, nas amizades, nos sonhos. Como mãe, acompanhei cada etapa da vida dela: a escola, a universidade, a escolha pela advocacia, os concursos, a dedicação à Defensoria Pública, a luta pelas mulheres e pelos direitos humanos. Tudo foi construído com muito suor e muito amor. Carla é uma mulher sensível, forte e extremamente comprometida. E ver minha filha ser homenageada por esse estado é como se todos nós estivéssemos sendo abraçados por Sergipe. É um reconhecimento mais do que justo, é uma celebração da mulher que ela se tornou.”
O pai da homenageada, o aposentado Raimundo Silva, também se emocionou com o momento:
“Receber esse reconhecimento por meio da Assembleia Legislativa de Sergipe é algo que toca profundamente. Acompanhei a trajetória da minha filha desde muito pequena, vi de perto suas lutas, seu esforço e o desejo constante de fazer a diferença. Carla sempre foi muito determinada. Desde criança, já demonstrava uma sensibilidade enorme para as questões sociais. Quando decidiu seguir o Direito, eu sabia que ela usaria a profissão para transformar vidas. Ela chegou aqui ainda menina, e Sergipe a abraçou. Aqui ela se formou, construiu sua carreira, seus vínculos, sua história. Então, ver minha filha ser reconhecida oficialmente como cidadã sergipana é como ouvir o Estado dizendo: ‘Você é nossa’. E isso não tem preço. Como sergipano, fico profundamente emocionado e orgulhoso. Carla representa tantas mulheres negras, tantas pessoas que lutam por justiça… só temos a agradecer por esse gesto tão bonito.”
Presença de amigos e parceiros de jornada
Além dos familiares, amigos e colegas de profissão estiveram presentes e celebraram a homenagem como um reconhecimento merecido à trajetória da defensora. O noivo de Carla, o advogado Gustavo Machado, compartilhou sua admiração pela trajetória da companheira:
“Esse título que Carla recebe hoje é a materialização de algo que sempre esteve claro para todos que a conhecem: ela é sergipana de coração, de alma e de ação. Quem convive com Carla sabe o quanto ela ama essa terra e como se dedica incansavelmente à defesa dos direitos humanos, especialmente das mulheres negras. É uma mulher que não apenas ocupa espaços, ela os transforma, ressignifica e abre caminhos para outras entrarem. A trajetória dela é feita de coragem e coerência. Ela nunca separa a atuação profissional da missão de vida. Como defensora pública, como militante, como mulher negra, ela entende a importância do lugar que ocupa. Esse reconhecimento fortalece ainda mais sua caminhada. Como companheiro, me sinto imensamente orgulhoso. Como advogado, me inspiro nela. E como sergipano, fico feliz em ver que o Estado reconhece uma de suas maiores defensoras.”
O defensor público Marcos Palmeira, colega de trabalho de Carla, destacou sua atuação como agente de transformação:
“É uma grande satisfação estar presente nesse momento tão significativo. O título de cidadania sergipana concedido à defensora pública Carla Caroline é o reconhecimento de um trabalho sério, comprometido e profundamente humano. Carla tem uma longa trajetória na advocacia militante, atuando em defesa de movimentos sociais, causas sindicais e, especialmente, na luta pelos direitos das mulheres e das populações mais vulneráveis. Na Defensoria Pública, ela tem feito um trabalho admirável, garantindo acesso à justiça a quem mais precisa. A Assembleia Legislativa está de parabéns por essa iniciativa. Carla representa, com dignidade e força, o espírito sergipano de resistência, acolhimento e luta por justiça. É uma honra tê-la como colega e, agora, como conterrânea.”
Sobre a homenageada
Carla Caroline de Oliveira Silva nasceu em 2 de abril de 1985, no Rio de Janeiro, filha de mãe soteropolitana e pai aracajuano. Aos três anos, mudou-se com a família para Aracaju, onde construiu sua trajetória de vida e formação. Cresceu no Conjunto Orlando Dantas e estudou no extinto CEOD. Filha de pai egresso da Escola Técnica Federal, seguiu os passos paternos ao ingressar no CEFET, em 2001, onde participou ativamente de projetos comunitários e do grêmio estudantil.
Formou-se em Direito pela Universidade Tiradentes, onde também cursou pós-graduação e mestrado. Atuou como estagiária na SMTT, Defensoria Pública, Ministério Público e Procuradoria da República. Foi servidora efetiva do MPSE antes de ser aprovada no concurso da Defensoria Pública em 2012. Com passagens por funções estratégicas na Alese e na Prefeitura de Aracaju, tomou posse como defensora pública em 2018, atuando com dedicação nas comarcas de Simão Dias e Nossa Senhora do Socorro.
Militante das causas sociais, integra a Rede de Mulheres Negras de Sergipe, o Coletivo A Rua e é aliada do Movimento Nacional da População de Rua em Sergipe (MNPR-SE). Em 2024, recebeu o Prêmio Riomar Mulher na categoria Justiça e Democracia e tornou-se a primeira mulher negra a presidir a Comissão de Defesa dos Direitos da Mulher da OAB/SE.
Carla Carol fez história ao se tornar a primeira mulher negra a presidir a Comissão de Defesa dos Direitos da Mulher (CDDM) da OAB/SE, marcando um avanço significativo na representatividade dentro da instituição e reforçando seu compromisso com a promoção da equidade de gênero e o enfrentamento das desigualdades raciais.
A entrega do Título de Cidadania Sergipana à defensora pública Carla Caroline representa não apenas o reconhecimento a uma trajetória pessoal e profissional exemplar, mas também um tributo ao compromisso com a transformação social por meio da justiça, da empatia e da cidadania.