Por Marcolino Joe
A ida de Alckmin ao “Mais Você” foi um golaço de comunicação. Um lance bem pensado, bem executado, e com tudo a ver com uma estratégia que importa: traduzir política pro cotidiano.
Porque sejamos sinceros: o público do programa é, em sua maioria, classe D e E. Dona de casa, aposentado, trabalhador informal. Gente que sente a inflação na feira e no botijão de gás, não no gráfico do IPCA. E o que o governo fez? Botou o vice-presidente na mesa do café da manhã mais popular do Brasil, falando com quem realmente precisa escutar.
Só que isso não dá hype.
Não viraliza entre os progressistas cool do X. Não ganha thread apaixonada de marqueteiro gourmet.
Porque não é meme, não tem corte emocionado, não é disruptivo.
É só… competente.
E aí vem a turma da análise com filtro de torcida, dizendo que foi um erro.
Erro?
Erro é achar que comunicação pública tem que seguir a estética do TikTok político.
Alckmin entregou o recado sem panfletagem, com sobriedade, num espaço que gera identificação e transmite confiança. Pra um público que não quer saber de orçamento secreto, quer saber se vai conseguir pagar a conta de luz.
Recentemente, num evento de comunicação política, ouvi o mantra da vez:
“A extrema-direita é quem sabe se comunicar.”
Sim, eles são bons.
Mas bons dentro de um modelo específico: comunicação hiperbólica, emocional, com estética de denúncia, engajamento por indignação e foco em guerra cultural.
Funciona? Funciona.
Mas não é a única forma de comunicar bem.
Quer ver?
Pega o vídeo do Nicolas Ferreira sobre o PIX.
É direto, visualmente apelativo, gera revolta instantânea.
Mas é também uma distorção simplista de um tema complexo, feita pra manipular emoção.
A qualidade não está na profundidade. Está na capacidade de causar ruído.
Comparar isso com comunicação institucional é desonestidade analítica.
É como comparar jiu-jitsu com ginástica olímpica:
os dois estão no tatame, mas as regras são completamente diferentes.
E o Tarcísio?
Ponto fora da curva, mas dentro da cartilha.
Tem um time afiado, vídeos com estética limpa, narrativa clara.
Mesmo quando não entrega, vende bem a imagem de gestor sério, técnico, trabalhador.
Só que, de novo:
É uma comunicação que não precisa prestar contas com a realidade.
Pode usar dado solto, frase de efeito, e contar com uma bolha pronta pra amplificar tudo.
Já o governo?
Tem que comunicar sem fake news,
com responsabilidade fiscal,
sem atacar instituições,
e ainda falar com o Brasil real, não com a bolha.
Ou seja: a régua é outra.
O desafio é outro.
E a cobrança, infelizmente, também é outra.
A ida do Alckmin à Ana Maria não vai virar trend.
Mas pode acalmar a classe média baixa,
explicar o que está sendo feito,
mostrar com quem o governo está preocupado.
E aí vem a pergunta:
Será mesmo que a direita se comunica melhor?
Ou será que ela só joga num campeonato com menos regra?
Dizer que eles “sabem comunicar” é como dizer que o vendedor de carro usado é melhor que o consultor financeiro.
Um te encanta com o ronco do motor.
O outro tenta explicar a Tabela Fipe.
Quem se apaixona fácil escolhe o primeiro.
Mas quem pensa no longo prazo sabe quem merece confiança.
A crítica, no fim das contas, deveria ser outra:
por que o governo não faz mais isso?
Por que não aposta com mais frequência em comunicação de massa, simples, direta, responsável?
Porque analisar comunicação bem-feita de governo pode não dar hype,
mas dá aprendizado.
E quem vive de comunicação deveria saber reconhecer isso.
Marcolino Joe é cineasta e estrategista sergipano.