O Brasil saiu oficialmente do mapa da fome. A notícia, confirmada por dados internacionais, indica que menos de 2,5% da população brasileira enfrenta risco de subnutrição. Mas o que isso realmente significa num país tão desigual como o nosso?
É um dado que deve ser comemorado, sim. E por todos. Independente de posição ideológica, não há avanço político possível quando ainda existe uma parcela da população que não sabe se vai conseguir se alimentar no dia seguinte. Não estamos falando de um problema abstrato ou distante. Trata-se da base de qualquer dignidade humana: o direito de comer.
A crítica frequente no debate público é sobre a falta de consciência política da população. Mas como esperar esse tipo de consciência de quem mal consegue encher o prato? Quem está na linha da fome não tem tempo nem estrutura emocional para acompanhar o noticiário ou entender os bastidores da política. Está lutando para sobreviver. E isso não é metáfora.
Quem está confortável, com fartura de escolhas à mesa, costuma esquecer que nem todos vivem a mesma realidade. Decidir entre comer em casa ou na rua é um dilema de luxo. Há quem, no Brasil, não tem sequer a certeza de que vai comer. E esse tipo de insegurança não permite espaço para análise política, nem para debate democrático. Quem vive com fome vive no limite, e isso compromete a capacidade de pensar sobre qualquer outro aspecto da vida.
A saída do Brasil do mapa da fome não é uma vitória exclusiva de um governo ou partido. É um alívio coletivo que deveria ser tratado com a seriedade e o respeito que merece. E, acima de tudo, é um sinal de que políticas públicas bem desenhadas podem, sim, fazer a diferença.
Agora é hora de reconhecer o valor da informação e da educação como ferramentas de transformação. A fome não desaparece com decretos, mas com consciência. E é isso que torna tão urgente investir na formação de um senso crítico que vá além das bolhas ideológicas e alcance quem mais precisa.
Enquanto houver brasileiros ainda enfrentando insegurança alimentar, o dever do Estado e da sociedade é continuar cobrando e construindo soluções. Celebrar a saída do mapa da fome é importante, mas entender o que isso revela sobre a nossa responsabilidade coletiva é ainda mais essencial.