Agressão de policial na prainha de Telha revela como a ideia distorcida de autoridade ainda se confunde com violência
Um policial militar à paisana foi flagrado em vídeo agredindo um grupo de mulheres na noite do último domingo, 6 de abril de 2025, na prainha de Telha, município do Baixo São Francisco. O caso ganhou grande repercussão nas redes sociais — não apenas pela violência em si, mas pelo que ela representa: um retrato cru de uma masculinidade que, para se impor, ainda precisa ser anunciada aos gritos.
Antes da agressão, o agente — identificado como o sargento Romualdo Santos Lemos, conhecido como Bazar — fez questão de declarar, em alto e bom som, “eu sou homem”. Sim, essa foi a introdução que ele julgou apropriada. Como se a afirmação verbal fosse necessária para confirmar sua identidade ou justificar seu comportamento.
O episódio, que revoltou internautas e frequentadores do local, levanta reflexões importantes. Ao ser questionado pelas mulheres presentes — que, vale ressaltar, mantiveram a compostura — o policial respondeu da forma que julgou mais eficiente: com um tapa no rosto de uma delas. Visivelmente alterado, ele pareceu confundir respeito com intimidação, força com violência, autoridade com abuso

Ficam os questionamentos: que tipo de masculinidade é essa que precisa gritar para se afirmar? O que leva um homem — e, ainda mais grave, um agente da segurança pública — a entender que violência é sinônimo de respeito? Desde quando a farda passou a servir de escudo para práticas de intimidação?
Não se trata aqui de atacar a instituição ou generalizar condutas. Mas é urgente reconhecer que há, sim, agentes que desonram o serviço público com comportamentos incompatíveis com a função que exercem. E é igualmente preocupante o silêncio — ou mesmo a conivência — de quem deveria zelar por condutas éticas dentro da corporação.
O vídeo, amplamente compartilhado, não deixa dúvidas sobre a agressão. Mas o que talvez incomode mais seja o que ele simboliza: uma cultura ainda arraigada que normaliza a agressividade como traço de masculinidade. Se for esse o modelo que estamos cultivando, é hora de rever urgentemente os conceitos.