Em Aracaju, a prefeita Emília Corrêa tem recorrido a um padrão discursivo sempre que a sua gestão enfrenta questionamentos ou desgastes administrativos: a narrativa da perseguição. Toda vez que surgem cobranças legítimas de órgãos fiscalizadores, como o Tribunal de Contas do Estado (TCE) no caso do transporte público, ou críticas da imprensa, a resposta é previsível. Em vez de explicações objetivas ou responsabilidade sobre os problemas apontados, vem o discurso de que há uma estrutura montada para fragilizá-la politicamente.
A estratégia é clara: inverter a lógica da cobrança. Quem cumpre seu papel constitucional de fiscalizar passa a ser visto como parte de um complô. Quem levanta questionamentos torna-se inimigo político. E a prefeita, por consequência, se posiciona como vítima de um “sistemão” conspiratório. O argumento é sempre o mesmo: “sei que há interesses de me tornar inelegível”, “não posso me calar”, “não citarei nomes, mas…”. Frases de efeito que funcionam bem nas redes sociais, mas que pouco respondem às falhas da administração pública.
Esse tipo de discurso tem um efeito imediato: mobiliza a base mais fiel e tenta desviar o foco dos problemas concretos da gestão. Mas também revela uma dificuldade crônica em lidar com críticas técnicas e políticas. A prefeita raramente admite falhas internas. A culpa, aparentemente, nunca está na conduta de quem está ao seu redor, nem na forma como a prefeitura tem tomado decisões. Tudo é sempre culpa de terceiros.
O problema dessa retórica é que ela se desgasta. A população pode até se sensibilizar inicialmente, mas à medida que os problemas continuam e não são resolvidos (buracos nas ruas, contratos emergenciais injustificáveis, falta de transparência), o discurso perde força. Vira repetição. E o que era uma tática de autodefesa passa a ser interpretado como falta de preparo para o cargo.
A cobrança por parte do TCE, do Ministério Público ou da imprensa não é ataque pessoal. É uma exigência democrática por prestação de contas. É o funcionamento natural das instituições. Não pode haver confusão entre fiscalização e perseguição. Uma prefeita que se diz movida por desafios não pode tratar cada crítica como ataque. Isso não é coragem. É fuga de responsabilidade.