Ausência de previsão orçamentária em cidades do consórcio inviabiliza o novo sistema integrado, e Aracaju afirma que não tem condições de arcar sozinha com os subsídios.
Anunciada com destaque pela prefeita de Aracaju, Emília Corrêa (PL), em 7 de janeiro de 2025, a nova licitação do transporte público da Grande Aracaju corre sério risco de ser adiada para além de 2026. A promessa era de que o processo estaria concluído em seis meses, mas os obstáculos orçamentários e a falta de articulação entre os municípios consorciados colocam o cronograma em xeque.
Um dos pontos mais críticos foi revelado em manifestação da Procuradoria do Município de Aracaju ao Tribunal de Justiça de Sergipe (TJSE). Segundo o documento, Nossa Senhora do Socorro, integrante do consórcio metropolitano, prevê apenas R$ 1 mil na Lei Orçamentária Anual (LOA) de 2025 para subsidiar o novo sistema. O valor é drasticamente inferior ao que deveria ser reservado: cerca de R$ 28,5 milhões, conforme estipulado no contrato de rateio entre os municípios.
Ainda de acordo com a Prefeitura de Aracaju, o próprio prefeito de Socorro, Samuel Carvalho (Cidadania), declarou publicamente não ter condições financeiras de arcar com os subsídios tarifários, inviabilizando a execução do modelo proposto.
Aracaju não bancará os custos sozinha
A situação é agravada pela posição da capital. Servidores da comunicação da Prefeitura confirmaram que Aracaju não tem condições de bancar sozinha os custos do transporte metropolitano, caso a licitação finalizada em 2024, na gestão do ex-prefeito Edvaldo Nogueira, fosse adiante. Com a recusa dos demais municípios em participar financeiramente, o modelo compartilhado proposto até então se tornaria impraticável.
Outro entrave foi admitido na manhã desta quinta-feira, 7, pelo prefeito da Barra dos Coqueiros, Airton Martins, que, em entrevista à Rádio Fan FM, afirmou que a gestão passada também não deixou previsão orçamentária para subsidiar o transporte este ano, como estabelecido no consórcio. A fala foi dirigida ao jornalista Narcizo Machado e reforça o cenário de desarticulação regional.
Leitura política: cenário pode empurrar licitação para 2027
Ainda que o processo licitatório seja formalmente lançado até o final de 2025, a ausência de previsão orçamentária em municípios como Socorro e Barra já compromete a viabilidade da operação. A cidade de São Cristóvão, também integrante do consórcio, até o momento não se manifestou publicamente sobre a alocação dos recursos.
Na prática, sem garantias financeiras mínimas, a licitação prometida pela prefeita de Aracaju dificilmente sairá do papel neste ano ou em 2026. Na minha avaliação, o mais provável é que esse processo seja empurrado para 2027, ano pré-eleitoral, quando a gestão municipal, hoje sob comando do PL, poderá tentar capitalizar politicamente sobre um tema sensível à população.
Não há confirmação oficial nesse sentido, mas os sinais técnicos e orçamentários indicam um adiamento quase inevitável. Até lá, o sistema de transporte público da Grande Aracaju permanece operando de forma precária e provisória, distante da estabilidade que a licitação representaria.