por Danilla Andrade e Marianna Albuquerque
Danilla Andrade, engenheira civil e superintendente de Desenvolvimento Regional e Gestão Metropolitana da Seplan, e Marianna Albuquerque, arquiteta e urbanista e assessora especial de Gestão Estratégica da Seplan.
Aracaju completou 169 anos em 17 de março de 2024, quando tornou-se, no mesmo dia de sua fundação, a nova capital da província de Sergipe del Rey. O Centro Histórico da cidade de Aracaju começou a ser ocupado administrativamente em novembro de 1854, mais precisamente à margem direita do Rio Sergipe, próximo à atual Praça General Valadão. O planejamento dessa região partiu de um projeto arrojado para a época que traçou todas as ruas em linha reta, formando quarteirões simétricos que lembravam um tabuleiro de xadrez, contendo 32 quadras, cada uma com ruas de 110 metros.
Ao longo do tempo, o Centro de Aracaju adquiriu uma dinamicidade própria e uma pluralidade bastante notável: com sua intensa ocupação residencial e a ocupação expressiva do comércio local, veio a valorização dos imóveis e a disseminação da cultura popular enquanto valorização também desse lugar — artesanatos, música, dança e outras expressões. Pode-se dizer que era um dos principais ambientes da cidade onde a vida aracajuana acontecia em maior concentração.
No entanto, com o passar dos anos, toda essa pluralidade sofreu e ainda sofre uma drástica redução que resulta no que muitos pesquisadores, gestores públicos e profissionais de distintas áreas de Arquitetura e Urbanismo, Cultura, Antropologia, Sociologia, entre outras, compreendem como o esvaziamento dos centros urbanos.
Essa tendência não é exclusiva da nossa capital, trata-se de um fenômeno constantemente observado em centros urbanos de todo o país. A desocupação progressiva dessas áreas centrais reflete desafios comuns, como a migração de moradores e empresas para outras regiões da cidade, como shoppings e outros centros comerciais para áreas mais distantes. Como consequência, uma série de implicações acontecem como aumento da violência urbana, da impermeabilização do solo, da poluição, das desigualdades sociais, e outros tantos.
Por esses e demais motivos, a revitalização dos centros urbanos tornou-se uma prioridade para muitas cidades brasileiras. Eventos e seminários realizados em todo o país têm abordado esse tema, proporcionando uma vasta troca de experiências sobre os sucessos e os fracassos dos diversos planos elaborados. Em Aracaju, não é diferente.
A Subsecretaria de Desenvolvimento Regional e Gestão Metropolitana (SDR), criada em fevereiro de 2024 e vinculada ao Governo do Estado, através da Secretaria Especial de Planejamento, Orçamento e Inovação do Estado de Sergipe (Seplan), tem se dedicado a buscar soluções para revitalizar o centro da capital de Sergipe com o objetivo de promover um ambiente urbano mais inclusivo, seguro, sustentável e inovador.
Nesse viés, a Seplan realizou no último dia 1º de julho o Seminário Aracaju no Centro, um evento interno que reuniu diversos especialistas, gestores públicos estaduais e municipais, instituições empresariais, construtores, acadêmicos e movimentos sociais para debater e elaborar estratégias de intervenção que possam transformar positivamente a área central da capital sergipana.
No turno da manhã, as palestras foram brilhantemente conduzidas por renomados profissionais da área. Estiveram presentes: o Secretário de Infraestrutura da Prefeitura de Aracaju, Sérgio Ferrari; o professor doutor da Universidade Federal de Sergipe, César Henriques; o engenheiro espanhol Enric Truñó; o coordenador de projetos da ONU Habitat, Alex Rosa; o secretário executivo do gabinete do Centro do Recife (Recentro), João Paulo da Silva; o engenheiro urbanista, Cláudio Marinho e a secretária executiva da Frente Parlamentar pelos Centros Urbanos, Gabriela Sabino.
Durante a tarde, o evento contou com uma oficina conduzida pelo engenheiro urbanista Claudio Marinho, que envolveu participantes de todas essas áreas, abordando temas como preservação do patrimônio histórico, mobilidade urbana, segurança pública, economia local, habitação, sustentabilidade ambiental, inovação, entre outros. Foi um momento valiosíssimo de muita discussão e compartilhamento de ideias sobre como pensar o nosso centro histórico de forma coletiva.
A revitalização do Centro Histórico de Aracaju é um projeto ambicioso e essencial para o desenvolvimento da cidade que é a capital do estado. O envolvimento desses setores da sociedade é crucial para o sucesso desta iniciativa através do debate de ideias e propostas que possam transformar nosso centro em um lugar mais atrativo e funcional.
O Centro Histórico de Aracaju, com sua rica história e importância socioeconômica, merece essa atenção especial. Sua revitalização retoma a preservação do patrimônio cultural, mas também impulsiona a economia local, melhora a qualidade de vida das pessoas que ali residem e usufruem, atrai novos moradores e importantes investimentos públicos e privados para a localidade, além de conservar a memória do lugar.
E a promoção de encontros como este destaca a importância de uma atuação conjunta na revitalização do Centro de Aracaju e demonstra que esta atuação, além de necessária, é sim possível. Certamente este foi um passo notável, mas não será o único momento de debate sobre o centro nos próximos meses. Outras rodadas de conversa com os diversos segmentos e seus representantes estão previstas para logo mais adiante.
A realização do Seminário Aracaju no Centro representa apenas o início de um longo caminho a ser percorrido, mas com a colaboração e o empenho de todos os setores e atores da sociedade é possível revitalizar o Centro Histórico de Aracaju, tornando-o novamente um local vibrante e atraente para a população, seja para momentos de lazer, trabalho ou moradia.
Este é um compromisso coletivo, um pacto que une passado e futuro no único momento em que as devidas ações podem de fato ser iniciadas: o presente! O Centro Histórico de Aracaju vive e precisa de todas e todos nós!